E eu me senti arrasada, pisoteada, despedaçada por dentro, como se um vendaval tivesse passado e arrancado tudo do lugar, ou um tornado tivesse arrebentado as veias principais do meu coração, me fazendo agonizar, de maneira que o fim estivesse cara a cara comigo, ou melhor, foi como um tsunami, que chega sem avisar e num piscar de olhos inunda tudo o que pode; esse tsunami se formou dentro de mim e eu pude sentir quando devastou o que havia por dentro. Eu sentia cada espaço vazio ser preenchido agora pela água fria e congelante do mar salgado que se tornou a minha alma; cada entranha viva foi arrastada e morta, era como se eu estivesse vivendo apenas com o fôlego de um momento que estava-se indo de vagar, depois depressa, e depois, puf, a água havia tomado tudo e nada mais encontrava-se em seu lugar.
Vê-lo com outra garota me fez cair de um prédio. Me fez acordar para a realidade cruel de que eu havia me escondido. Ver aquela cena patética foi como assistir a um filme sem graça com uma pessoa mais sem graça ainda. Todo o castelo que eu construí, estava agora desmoronado numa montanha de raiva, decepção, tristeza, angústia.
Ele a olhava da mesma maneira que havia olhado pra mim semanas antes, a tocava de um jeito diferente, mas ainda assim, com os mesmo toques maliciosos. Eu sentia as ondas explodirem dentro de mim. Já não sabia se realmente estavam congelando a minha alma, ou se agora estavam a esquentando tanto que era quase impossível continuar no mesmo estado. Eu não quis olhar, eu não quis mais assistir àquilo. Eu estava decepcionada demais, triste demais para dar audiência à tudo aquilo. Estava mutilada.
Tantas declarações, tantas cartas, tantos poemas, agora jogados ao vento. O mesmo vento que me devastou. O mesmo vento que ora tinha arrancado minhas entranhas e despedaçado o meu coração.
Fui para casa pensando o que iria fazer, o que iria dizer, ou se iria conseguir parar de chorar quando lembrasse do que tinha presenciado. Eu não sabia nenhuma das respostas. Esfreguei as costas das mãos nos olhos, como as crianças fazem depois de terem chorado demais por um pedido negado, e tentei fazer eu mesma acreditar que aquilo não passava de um pesadelo. Talvez você tenha confundido as pessoas, existem pelo menos cinco pessoas iguais a cada um no mundo. E se você estava um pouco alterada? E se não era ele? Vamos, isso vai ser esclarecido, se não for por você, será por uma outra pessoa. Notícias ruins correm rápido. Mas pense pelo lado bom, se era ele (o que eu acho que não), ele nem conseguiu te ver, você estava bem longe! Isso... não era ele, ufa.
Me joguei na cama como se estivesse domindo no chão duro à um bom tempo, olhava fixamente para o teto, determinada a acreditar que o que eu vi, não havia visto e que o que foi, poderia não ter sido. Passei horas lamentando muita coisa. Os olhos vermelhos de tanto chorar e quase secos de tanto tempo que ficaram a olhar para uma coisa só, já estavam implorando para terem um descanso. Eu decidi que aquilo não era para mim e nem para ninguém. Fechei os olhos acreditando acordar melhor e na esperança de que o sol nasce para todos, portanto, enquanto há vida, há esperança. Eu estava apenas começando a viver.